História do Grupo


Mestre Mário “Buscapé” nasceu em 17 de Julho de 1934 em São Francisco do Conde – BA e começou a aprender a arte da capoeira aos 8 anos de idade com mestre Dendê e mestre Bidel. Chegou ao Rio de Janeiro em 1951, aos 17 anos e saiu em 1957 de navio, onde retornou a sua cidade natal.

No Rio de Janeiro mestre Mário foi mestre dos mestres “Zé Grande” e “Deraldo”, que em 06 de janeiro de 1953, fundaram a Associação Cultural Bonfim, onde aos 12 anos, mestre Gary, formado como mestre 22, começou a prática da capoeira.

O Grupo de Capoeira Liberdade vem de uma linhagem antiga, sua capoeira é de raiz, como pode ser visto em nossa árvore genealógica, mostrando a linhagem de mestres até chegar ao nosso mestre titular. E dele, os mestres que foram formados e que, se formos acrescentar aqueles que formaram seus mestres abaixo, teremos muito mais.

Na árvore abaixo temos Mestre Besouro encabeçando a lista, em seguida mestre Bidel, mestre Dendê que ensinou a mestre Mário “Buscapé”, os mestres ´”Zé Grande” e “Deraldo”, que ensinaram a mestre Gary, ou como era conhecido, mestre 22, que ensinou e formou à Mestre Lébio, Mestre Rui charuto, mestre Mão de Onça, mestre Toinho, Mestre Elias e Mestra Marly “Malvadeza”.

Árvore Genealógica

Um pouco mais sobre nossa história está no conjunto de perguntas e respostas feitas a mestre Gary, que foram transcritas abaixo:

Entrevista com Mestre Gary

Mestre, quanto tempo o Sr. tem no mundo da capoeira?
Comecei a capoeira no ano de 1957, oficialmente tenho 55 anos militando.

Qual foi sua motivação para iniciar a capoeira na época em que começou a praticar?
Eu estava certa vez no bloco da São Clemente em Botafogo, no estado do Rio de Janeiro, que hoje é conhecida como a escola de samba São Clemente e de repente uma correria, uma briga estava acontecendo, e percebi a atividade de um branquinho que parecia o "cão" incorporado... pulava... batia... chutava... rodava... arrastava, e quando tudo terminou eu procurei saber o que estava acontecendo e quem era o moço, dai soube que era um "capoeira" e tinha acabado de dar uma surra em mais de 4. Foi ai que eu disse a mim mesmo, vou aprender essa tal de capoeira. Eu era garoto na época, tinha uns 13 anos.

Em relação a capoeira da época em que começou para a capoeira atual, quais as principais diferenças que o Sr. vê?
É que na minha época quando se via um capoeirista jogando em uma roda perguntava-se quem era o seu mestre "Menino, quem era o seu mestre?". Pelo mestre você sabia se o cara era bom ou não. Hoje quando o capoeirista chega, perguta-se: "De que grupo você é?" Antes avaliava-se um aluno pelo mestre, hoje, avalia-se um aluno pelo status do grupo, se é grande ou pequeno. E uma outra grande diferença é o respeito em uma roda, nunca ninguém tocava em um mestre, nem com a mão nem com os pés. Hoje em dia existem alunos que tentam fazer isso. Uma coisa que muito irritava um mestre nessa situação era quando o seu oponente (aluno ou não) coloca as mãos sobre o mestre e principalmente quando na cabeça.

Existe algum tipo de assinatura na capoeira de determinados capoeiristas? Quero dizer, você pode reconhecer um mestre pelo seu jogo e saber que um aluno é discípulo de um mestre específico?
Sim, é possível. No caso estamos falando de mestres angoleiros, regionais e contemporâneos. Também existe mestres que carregam como se fosse uma tradição a ginga de seu mestre, e que alunos (discípulos) a copia.

O que caracteriza o seu jogo de capoeira?
O uso constante de movimentos usando a cabeçada e rasteira.

O que pode nos dizer sobre a famosa “cabeçada”?
É um tipo de movimento hoje muito pouco usado pois os cabeceiros por assim dizer é como se fossem uma espécie em estinção. A cabeçada é um movimento muito perigoso, isto porque tem que ser aplicada no momento certo e no lugar exato. Não pode o cabeceiro se dar ao luxo de errar, caso contrário ela se torna uma faca de dois gumes. Enfim, é um movimento onde requer toda a malícia do capoeira.

Mestre, e é fácil aprender?
Eu não sei, pois eu já utilizo esse movimente há mais de 40 anos e a verdade que sei é que até hoje nada sei.

Mestre, quem te ensinou a tecnica de cabeçada?
Havia no Rio de Janeiro, no grupo em que me formei (Capoeira Bonfin) um mestre que se chamava "Veludo", nego forte, ligeiro, e que era um dos cabeceiros mais respeitado da cidade. Foi esse quem me ensinou.

Dentre seus alunos existe algum que o Sr. considera conhecedor da técnica?
Sim, e por incrível que pareça é uma aluna, o nome dela é Marly Mauvadeza (Professora Malvadeza).

O Sr. ministra aulas ou cursos sobre técnicas de cabeçada?
Sim, quando solicitado.

Quanto tempo levaria um aluno dedicado a aprender noções básicas de tecnicas de cabeçada?
Um aulão com a duração mínima de 4 horas.

Mestre, e é recomendado ensinar essa técnica a alunos iniciantes?
A técnica de cabeçada existe antes de eu nascer, porém, no meu ponto de vista, o ideal é que está técnica seja mostrada para alunos de graduações altas.

Mestre, como era a Capoeira dos anos 60/70?
Era muito perigosa!

Como assim mestre?
É que o Capoeirista não preocupava-se com estilo. Ou seja, ele era simplesmente jogador de capoeira. Época em que a rasteira 360 graus e a cabeçada era o que mais se via no jogo. Não haviam agarrões, até porque era muito difícil chegar perto do seu oponente. Época do capoeirista ligeiro.

Nestes tempos o que o Sr. Fazia para viver? Trabalhava em que?
Com capoeira.

Dando aulas Mestre?
Não, eu jogava capoeira todos os dias o dia todo.

Não entendi mestre. Pode explicar?
Bem, nós iamos para a praça Mauá que era a estação de passageiros que chegavam da Navio (turistas) e ai nos jogavamos pegando o dinheiro no chão com a boca. Algo parecido com o que se faz hoje no mercado modelo. Só que não passavamos o pandeiro.

Mestre, nesta época quais eram os capoeiristas mais em evidência no Rio de Janeiro?
Haviam poucos. Zé Grande, Deraldo, Luiz do peito queimado, Zé Pedro, Mentirinha, Cilas, Touro, Travasso, Celso do Engenho da Rainha, Corvo, Bogado, Martins, Marlon, etc... E é claro, modestamente incluo-me. Mestre 22 da Bonfin.

Como se trajavam os capoeiristas nesta época?
Com vestimenta normal, não haviam uniformes e nem cordas.

Mestre, a corda hoje é a identidade do capoeirista. Se não havia, como sabiam, na roda quem eram os mestres?
Boa pergunta. As rodas tinhas hora para começar e então o mestre Zé Grande, meu mestre, mandava dar o toque de iuna e só jogavam os mestres, está era a tradição. E acredite, era muito bonito de se ver.

Mestre, num jogo de capoeira, como o senhor se considera? Angoleiro, regional ou contemporâneo?
Nenhum destes, sou simplesmente um velho aluno com 67 anos de idade, que ha 55 vem tentando aprender capoeira. Somente sou um velho jogador de capoeira.

Mestre, deixe uma mensagem para os capoeiristas.
Respeite e proteja a integridade física e moral dos velhos mestres, pois eles, são as fontes de sabedoria e a memória viva da capoeira.